Brandus dream list

Mensagens populares

sábado, 26 de março de 2011

Um complemento musical de alta qualidade

Mais um vídeo do The Wall Live. Sem mais comentários...

Gibraltar — mais do que um símbolo de solidez



ERGUENDO-SE como uma sentinela que guarda a entrada ocidental do Mar Mediterrâneo há uma enorme rocha — o famoso Rochedo de Gibraltar. Tornou-se tão associada com a qualidade de solidez que, sempre que mencionada, vem de imediato à mente a expressão: “Tão sólido quanto o Rochedo de Gibraltar.”

Mas, Gibraltar é mais do que um rochedo solidamente fortificado. É também o lar de muitas pessoas. Desde antes do primeiro século de nossa Era Comum há registro de sua ocupação pelos fenícios, gregos, cartagineses e romanos; os romanos cederam a possessão aos godos invasores no quinto século da E. C.

Ocupantes Mais Recentes

Em 711 E. C. Tarik ibn-Ziyad liderou cerca de 12.000 mouros na captura da cidadela estratégica. Os mouros a chamaram de “Jabal Tarik” (Montanha de Tarik) em honra de seu líder. Com o tempo, o nome veio a ser corrompido para “Gibraltar”.

Seiscentos anos mais tarde, a ocupação mourisca foi interrompida quando a Espanha se apoderou do Rochedo em 1309. O Rei Fernando IV de Castela expediu um decreto destinado a encorajar o povo a estabelecer-se ali. O decreto isentava os colonos do serviço militar e do pagamento dos impostos reais. Até mesmo tornava Gibraltar um santuário para os criminosos que fugiam da justiça. Seus crimes seriam perdoados ao completarem um ano e um dia de residência.

Os empenhos espanhóis de manter a fortaleza falharam, contudo, os mouros a tomando de novo em 1333. Nos anos seguintes, ferozes batalhas pela posse ocorreram intermitentemente, tendo a Espanha por fim capturado de novo o prêmio em 1462. Embora fortificada pelos espanhóis de modo que era considerada inexpugnável, Gibraltar caiu em mãos dos ingleses em julho de 1704, e eles a mantiveram desde então.

Ao capturarem Gibraltar, os ingleses permitiram que os 6.000 residentes espanhóis escolhessem permanecer ou partir. Pouco menos de cem permaneceram. Os demais atravessaram o istmo e fundaram o pequeno povoado de San Roque, a cerca de dez quilômetros de distância A população de Gibraltar foi assim drasticamente reduzida.

Com o tempo foi preenchido o vácuo humano, principalmente por meio de colonos espanhóis e italianos. Mas também judeus, marroquinos, indianos e outros fixaram residência ali. Por fim, todos estes se fundiram num povo distinto — gibraltarinos. Atualmente, a colônia tem cerca de 25.000 habitantes. A maioria deles fala tanto o espanhol como o inglês.

Lar Distinto

O lar dos gibraltarinos é uma península rochosa, tendo menos de cinco quilômetros de comprimento e um quilômetro e meio de largura, que se lança do continente espanhol. Tem cerca de um décimo do tamanho da Ilha de Manhattan, de Nova Iorque, e também seria uma ilha não fora o istmo baixo e arenoso que forma uma “zona neutra” pesadamente guardada entre a Espanha e Gibraltar.

O Rochedo maciço, naturalmente, é a caraterística predominante da colônia. Ergue-se uns 420 metros acima do nível do mar e, do cume, pode-se, ver a Europa, a África, o Mar Mediterrâneo e o Oceano Atlântico. A única cidade da colônia situa-se no lado ocidental do Rochedo, onde boa parte do solo foi retirada do mar. O inteiro distrito comercial se acha ao nível do solo; no entanto, a área residencial adere espetacularmente às encostas socalcadas.

Aqui há vielas sombreadas e jardins suspensos e o ar fica carregado com o perfume das flores. Segundo a contagem real, há mais de quinhentas espécies de plantas. Estas incluem a tamareira, o pinheiro, o cipreste, o eucalipto, a alfarrobeira, a figueira, a pimenteira, a oliveira brava, as laranjeiras e limoeiros e uma variedade de cactos. Quase toda esta vegetação rica cresce do lado ocidental. As faces orientais e setentrionais do Rochedo são nuas e íngremes.

Os gibraltarinos são abençoados com um clima tépido, porém não extremamente quente, que favorece as atividades ao ar livre. No verão, quase todo o mundo gosta de passar tempo nas praias. Muitas famílias preparam suas refeições na noite anterior de modo que possam estar na praia bem animados e cedinho. Alguns jovens apreciam a pesca submarina, não raro voltando com filhotes de polvo e outras deliciosas iguarias do mar.

Por outro lado, muitos apreciam ir ao cume do Rochedo em um dos novos carros do telesférico. Estes percorrem o caminho aéreo em questão de minutos. Dali pode-se ver as Montanhas Rif do Marrocos e, olhando-se para o outro lado, a Costa del Sol da Espanha. Quão espetacular!

Dentro do Rochedo

Algumas das mais notáveis atrações de Gibraltar se acham dentro do próprio Rochedo, onde se encontram muitas cavernas naturais. A caverna de S. Miguel é às vezes usada como auditório em que até seiscentos espectadores têm comparecido a espetáculos musicais. É emocionante observar as estalactites e estalagmites ao assumirem várias tonalidades das luzes projetadas sobre elas.

Mas, além de cavernas naturais, o Rochedo está literalmente cheio de túneis feitos pelo homem e de enormes escavações que servem como reservatórios. Na Segunda Guerra Mundial, os ingleses escavaram quarenta e oito quilômetros de passagens subterrâneas. Ali estabeleceram hospitais, alojamentos, depósitos de munição, oficinas — uma cidade regular! Recentemente, eu e minha família fizemos uma excursão dentro do Rochedo.

Nosso guia nos mostrou diversos reservatórios, explicando: “Cada um tem seis metros e meio de profundidade e seu fundo se acha a 103 metros acima do nível do mar. Todos foram escavados em rocha maciça.” Tudo junto, há treze reservatórios, fomos informados, com a capacidade total de sessenta milhões de litros de água. Para dar melhor idéia do seu tamanho, o guia esclareceu que um deles fora usado como alojamento de três andares capaz de acomodar quatrocentos soldados durante a guerra!

Quando fizemos a excursão, já não havia chovido por vários meses, de modo que vários reservatórios estavam vazios, prontos para receber as chuvas aguardadas. “Vinte e cinco milímetros de chuva”, explicou o guia, “produzem 2.850 mil litros, que duram apenas três dias”. Assim, para suplementar a reserva de água potável da colônia foram escavados poços, e também foram construídas algumas usinas de dessalinização a fim de produzir água potável da água do mar.

Por último, saímos do túnel no lado oriental, bem na extremidade da enorme área de captação de água. Aqui, 72.000 folhas de metal corrugado cobrem uma área de quase quatorze hectares, captando a chuva e a canalizando para os reservatórios. Assim, até mesmo a superfície nua da encosta oriental é utilizada proveitosamente.

Ao voltarmos pelo túnel, torna-se óbvio que Gibraltar não é realmente tão sólida como se poderia pensar. Não é de granito, mas de pedra calcária. E certamente não é compacta, pontilhada como está de cavernas, reservatórios e túneis. Mas, daí, Gibraltar é muito mais do que um símbolo — é o lar de milhares de pessoas.

in Despertai de 8/4/1972 pp. 25-27

Provérbio da semana ( 19:15 )

A preguiça causa profundo sono e a alma indolente passa fome.

quarta-feira, 23 de março de 2011

Local: Pavilhão Atlântico em Lisboa - 21/3/11 Ocasião: Memorável!

Sendo os Pink Floyd o meu grupo favorito, sendo o The Wall o meu album de eleição, que inclui a minha música favorita - Confortably Numb - não poderia deixar escapar esta ocasião para revisitar um espectáculo como não se faz em mais lado nenhum. Depois de ver os próprios Pink Floyd em Alvalade e depois de ver o Roger na tournee In the Flesh, nesta Segunda tive a oportunidade de assistir a mais um concerto assombroso, divinal, espantoso, grandioso, maravilhoso, etc, etc...


Não há palavras para aquilo que sempre senti ao ouvir e ver os Pink Floyd, é sem dúvida a melhor banda de sempre!!!

Este espectáculo é o verdadeiro 3 em 1: teatro, cinema e música, tudo em qualidade impressionante!

Mais palavras para quê, sintam e arrepiem-se:

sábado, 12 de março de 2011

Raridades e Recordações ( 50 )

Há muitas falsidades neste mundo...

Artífices em miniatura



GOSTARIA de me apresentar. Sou um bichinho que rasteja — mais tecnicamente, um inseto. Parece-me que os gigantes da criação suscitam mais reverência do que nós, os insetos. Mas, deveras, nós os insetos possuímos raras credenciais. Poder-se-ia dizer que muitos de nós somos artífices em miniatura. Nesta era de diminutos transistores, nós, artífices miniaturizados e laboriosos, deveríamos suscitar interesse.

Deixe-me falar sobre algumas de minhas primas, as formigas da selva amazônica. Tais artífices constroem jardins suspensos em árvores e arbustos, onde também nidificam. Eis aqui como procedem: Transportam terra para cima e a colocam em crescentes quantidades sobre os ramos. Em seguida, escavam passagens e câmaras de forma hábil e as fortalecem com material semelhante a papel. Daí, plantam sementes especiais de antigos jardins. Os novos jardins aumentam em tamanho e, por fim, cercam o ninho da formiga na árvore, abrigando-o do sol e da chuva intensos.

Estes jardins suspensos deixam intrigados os humanos que nos estudam. Uma razão disso é que as plantas nestes jardins suspensos construídos pelos insetos são, aparentemente, distintas de qualquer outra que cresce em outras partes. Até agora, seus peritos já identificaram quatorze espécies distintas de plantas, e não se encontrou uma sequer que crescesse a não ser nestes jardins suspensos! Talvez apenas as formigas conheçam suas localizações. Os jardins suspensos de Babilônia foram considerados uma das sete maravilhas do mundo antigo, mas realizamos uma maravilha similar durante os séculos, e em miniatura!

Estofadores e Alfaiates

Temos muitos excelentes estofadores dentre a minha família. Conheço uma variedade de abelhas que fazem esplêndido trabalho. Tais artesãos delicados revestem suas inteiras células reprodutoras de camadas sucessivas de uma membrana surpreendentemente delicada que é mais lustrosa do que o mais lindo cetim. Até mesmo chega a reluzir! Imagine só, usam suas próprias línguas como colheres de pedreiro delicadas e produzem no seu próprio corpo todo o material de estofamento, uma secreção especial.

Entre as mamamgabas ou abelhas cortadoras de folhas há uma espécie que não mede mais de treze milímetros. A fêmea ajunta material de longe, ao invés de secretá-lo de seu próprio corpo. O material é uma substância macia que ela obtém de várias plantas. Seu deleite é estofar a base de suas operações. Algumas espécies constroem suas células por revestir bambus ocos, conchas vazias de caracóis ou buracos de minhocas, e até mesmo canos de armas de fogo talvez sejam revestidos.

Outros membros de minha família são alfaiates. Têm de sê-lo, a fim de evitarem ser comidos ou a fim de conseguirem uma refeição. Meus parentes diferem dos alfaiates humanos no sentido de que os alfaiates-insetos fazem roupas só para si mesmos e não para os outros. Fazemos trabalhos requintados.

Talvez a considere uma peste, mas a traça é um bom alfaiate. A larva que ingere tecido desta traça vive dentro dum capucho ou casulo feito de pedacinhos de algodão, pele ou outro pano tecido com seda. À medida que a larva cresce, o capucho fica muito apertado. Visto que não se pode “alargar” nenhuma costura, a larva faz um corte lateral de um extremo até o meio e insere novo material, aumentando o tamanho do capucho. Daí, faz a mesma coisa do outro lado, para preservar a simetria. O resultado? Talvez fique irado, mas minha prima possui um espaçoso casaco feito sem se privar da proteção, durante essa alteração.

Experimentalmente, fez-se com que este pequeno alfaiate tecesse um casaco de muitas cores por se colocá-lo sucessivamente em panos de tonalidades diferentes.

Fico também impressionado com as habilidades da Prima Frigana. A larva da frigana vive usualmente em correntes. Ali constrói para si uma pequenina casa ou casulo, cada espécie construindo sua própria espécie de casa submarina. Primeiro de tudo, a larva constrói um casulo tubular de seda. É preciso que faça mais do que isso, porém, para proteger o corpo deliciosamente macio da frigana dos pretensos engulidores dela, de modo que a frigana fortalece o casulo por adicionar-lhe quaisquer materiais que prefira: pedras, areia, conchas e assim por diante. Algumas espécies fazem para si mesmas uma cobertura protetora de folhas que é enrolada em seu tubo sedoso. Se o material preferido por determinada espécie não estiver disponível, a frigana usará o que houver às mãos.

Uma espécie de frigana prefere ligar a seu casulo sedoso vários pequenos caracóis d’água, cujos moradores ainda se acham lá dentro, plenamente vivos. Tal cobertura protetora de caracóis vivos é, aparentemente, desajeitada, de modo que este alfaiate acrescenta um pouco de gravetos de cada lado, fornecendo a necessária flutuabilidade, embora não seja o bastante para fazer flutuar a estrutura maravilhosamente feita. As longas patas da frigana saem para fora de seu casulo e facilmente arrasta seu lar móvel, ao movimentar-se em busca de alimento. Como se isso não bastasse, esta criaturinha pode aumentar a circunferência e a extensão de seu fabuloso lar, ao mesmo tempo que permanece submersa em água corrente!

Construtores

Nós os insetos somos maravilhosos construtores. E a forma em que construímos é arquiteturalmente o exato para as nossas necessidades. Tomemos um exemplo familiar, a célula do favo de mel. Trata-se duma estrutura sextavada — de um hexágono. Para a abelha melífera é a forma exata necessária! Como vê, uma célula hexagonal detém mais mel do que uma triangular ou quadrada. Também, este formato se fortalece pelo contato com todas as células vizinhas. Naturalmente, as abelhas nada conhecem de geometria, e, assim, este exemplo de artesanato tem sido chamado de “o mais maravilhoso de todos os instintos conhecidos”.

Sim, devido ao instinto com que fomos criados, nós, diminutos artífices realizamos alguns feitos surpreendentes. Tome-se, por exemplo, a arte de fazer teias. Embora as aranhas não sejam tecnicamente classificadas entre nós, os insetos, são artífices em miniatura. Na fabricação de teias acha-se envolvida a medição de distâncias, o cálculo de ângulos, puxar fios paralelos uns aos outros e a intricada geometria da construção. Considere uma teia de uns cinqüenta e cinco centímetros que uma aranha confeccionou. Quanto trabalho foi necessário? Levou apenas trinta e seis minutos. Havia mais de 37 metros de fio, que se achava ligado em 699 lugares. A aranha percorrera mais de 54 metros sem ficar uma vez sequer confusa ou presa!

É interessante que as aranhas lubrificam-se apenas nos lugares que entram em contato com sua teia. Uma aranha da selva indiana, de quinze centímetros começa a lubrificar-se ao pôr do sol por cerca de uma hora, mostrando um instinto que envolve previsão, não permitindo que nada seja desperdiçado.

Nós, insetos, temos entre nós certos cupins na África que constroem cupinzeiros que até mesmo os senhores, humanos, consideram como sendo maravilhas de engenharia. Algumas destas estruturas se assemelham a gigantescos cogumelos. E os estilos arquitetônicos variam segundo as condições enfrentadas. Em certa área, os cupins constroem talvez uma espécie de castelo com torres; em outra área, em solo diferente, o cupinzeiro talvez se pareça a um campanário de seis metros de altura.

Um dos mais surpreendentes montes de terra construído por um inseto se encontra na Austrália. Ali, certos cupins constroem o que chamam de “cupinzeiro-bússola”. Talvez chegue a ter 3,65 metros de altura e 3 metros de comprimento, e é quase sempre construído de modo a encarar o norte-sul; os lados achatados encaram o leste e o oeste. Entendo que seus entomologistas ainda não compreendem realmente por que tais artífices em miniatura constroem seus cupinzeiros à moda de bússola. E, quanto a nós, não iremos contar a razão.

Perfuradores e Mineiros

Daí, há a mosca icnêumone fêmea que possui um tubo capiliforme de cinco a doze centímetros de comprimento. Com o mesmo, ela pode perfurar vários centímetros de um tronco de árvore e atingir o túnel escondido dum inseto que coma madeira. Daí, através do tubo, deposita seus ovos que, quando incubados, comerão os outros insetos. Como consegue perfurar madeira maciça com um tubo delgado? Na ponta do tubo há diminutos dentes que são usados para serrar as fibras. É também surpreendente a capacidade desta mosca de determinar onde perfurar. Simplesmente explora com cuidado a árvore, sondando aqui e acolá com suas antenas. Por fim, fica satisfeita e mete as garras de suas patas na casca da árvore e começa a perfurar o alvo oculto — acertando bem na mosca!

Surpreendentes mineiros são as larvas das vespas da madeira. Em certo caso, a vespa da madeira pôs seus ovos num pedaço de pinho que foi subseqüentemente encerrado em quase quatro centímetros de chumbo (quinze camadas). Quando chegou a hora para as larvas emergirem, escavaram através da madeira e deram com o invólucro de chumbo. Atacando-o vigorosamente com seus maxilares, foram roendo camada após camada, perdendo alguns mortos pelos estágios da jornada, mas outros conseguiram passar por uns quatro centímetros de chumbo maciço. E isso foi feito por filhotes, levados pelo instinto!

Outros mineiros surpreendentes no reino dos insetos são as formigas saúvas e certos cupins. Várias saúvas certa vez escavaram um túnel por baixo do leito do Rio Paraíba, um rio brasileiro tão amplo quanto o Tâmisa na Ponte de Londres. E certos cupins do deserto escavam túneis verticais que chegam a atingir uns 40 metros de profundidade em solo arenoso! Quando atingem a água, levam o que desejam para o ninho.

Há muito mais que eu lhes poderia contar. Afinal de contas, nós, os insetos, ultrapassamos numericamente em muito aos senhores, humanos, de modo que há muitos de nós com que familiarizar-se. Mas, aquilo que já leu basta por hoje. Apreciei muito esta oportunidade de ajudá-lo a familiarizar-se melhor conosco como artífices em miniatura. Espero que isto lhe forneça uma nova perspectiva que nos faça parecer mais maravilhosos do que incomodativos.

in Despertai de 8/4/1972 pp. 18-21

Provérbio da semana ( 19:13 )

O filho estúpido significa adversidades para seu pai e as contendas duma esposa são como a goteira do telhado, que afugenta.

sábado, 5 de março de 2011

Raridades e Recordações ( 49 )

É mesmo boom, boom!

Como considera os costumes dos outros?




NUM luxuoso restaurante de Londres, um inglês e um africano começaram a saborear seu jantar. À medida que o africano destramente pegou a comida com a mão, os olhos do gerente reluziram de ira. “Muito bem”, disse ao inglês, “tenho que pedir ao cavalheiro que saia daqui — e leve seu amigo consigo”. Uma senhora retorquiu: “Por que não aprendem a comer corretamente?”

Os dois se levantaram e saíram, à medida que todos os olhos os seguiam. O que saíra errado? Não estavam bem vestidos e foram polidos? Ah, mas as mãos! Não é considerado correto comer com as mãos!

Não raro, as pessoas não estão cônscias de quão peculiares ou ofensivos seus costumes podem ser para pessoas de outra formação. Isto foi também ilustrado há alguns anos atrás quando um visitante do Canadá teve uma audiência com um chefe africano em Gana.

O canadense gesticulou livremente com a mão esquerda. Também apresentou um livro ao chefe com a mão esquerda. Isto deixou abalados os anciãos tribais. Falando ao chefe em sua língua nativa, exigiram que se corrigisse tal homem quanto às maneiras corretas.

Como vê, para os ganenses a mão esquerda é impura. Isto se dá por estar associada com seu uso no banheiro. Assim, nunca é usada para dar ou receber coisas, ou para ingerir alimento. Muito embora a pessoa lave ambas as mãos igualmente bem, segundo o costume ganense a esquerda ainda é considerada impura.

Os costumes variam grandemente, visto que as pessoas gozam de ampla variedade de formações e educações. Acha que seus próprios costumes são necessariamente os melhores? Ou considera que há mérito nos modos e nas práticas de outros povos? Examinemos alguns costumes. Isto nos ajudará a responder a tais perguntas.

Costumes de Presentear

Considere, por exemplo, os diferentes costumes relativos a presentear. Os europeus e americanos inclinam-se a selecionar presentes ajustados à pessoa, à necessidade ou ao sentimento. Em geral removem o talão do preço, visto que usualmente o costume não é oferecer presentes reconhecidos segundo seu valor. Em Gana, contudo, o dinheiro é um presente adequado para toda ocasião.

Quando pensa nisso, não é prático o costume ganense? Não economiza bastante tempo e esforço? Todavia, por outro lado, não há algo de acalentador em receber-se um ótimo presente pessoalmente escolhido por um amigo? Na realidade, ambos os costumes têm seu mérito, não têm?

Até os modos costumeiros em que pessoas recebem presentes variam. Um americano ou europeu polido geralmente abrirá um presente com óbvio deleite, agradecendo profusamente ao dador e daí, provavelmente, ficará cônscio da necessidade de retribuir de alguma forma para mostrar que a amizade é mútua. Mas, o que acontecerá se der um presente a um ganense?

Ele provavelmente lhe agradecerá de forma breve, meterá o presente debaixo do braço e o abrirá quando chegar em casa. Na manhã seguinte, quando talvez concluiu que ele não aprecia realmente os presentes, ele volta para lhe agradecer formalmente. E, de alguma forma, este esforço extra faz os agradecimentos parecerem um pouco mais genuínos. Também, o ganense não sentirá a necessidade de retribuir — pelo menos não tão cedo. Ele lhe concede a honra de ser seu benfeitor.

Conceitos Quanto à Vestimenta e Hospitalidade

Em Gana, uma senhora, quando vestida, costuma ter suas pernas cobertas, mas não necessariamente a parte superior do corpo. Assim, a mãe conversará com um visitante ao alimentar no seio seu bebê. E, dentro de casa, talvez encontre uma senhora mais idosa trabalhando coberta apenas da cintura para baixo. Considera isso chocante? Talvez. Mas, não é chocante para pessoas criadas numa comunidade em que este é o modo costumeiro de vestir-se.

Por outro lado, considere o ganense que visite uma casa européia ou americana. Talvez encontre a dona de casa de shorts. E, em certas comunidades talvez a veja sair em público com esta mesma vestimenta. Ao passo que este comportamento talvez seja aceitável para um americano, o africano pensaria: “Apresentando-se em público com sua roupa de baixo!” Assim, como vê, a formação da pessoa influi grandemente no que ela considera apropriado.

O que dizer se chegasse à casa de seu anfitrião e lhe fosse oferecido um banho? Ficaria talvez ofendido, considerando que isto dava a entender que cheirava mal? Ou aceitaria a oferta qual gesto de hospitalidade? Os ganenses se banham duas vezes por dia, e mostram sua hospitalidade aos convidados por lhes oferecerem um banho. Se visitasse o país quente de Gana, provável é que concordasse que se trata dum costume excelente, visto que um banho é deveras revigorante!

Nos EUA, as saudações se inclinam a ser breves. Talvez sejam simplesmente um rápido “Hello”, e daí as pessoas continuam em suas tarefas ou diversões. Em Gana, por outro lado, oferece-se ao convidado uma cadeira confortável, e gasta-se certo tempo em saudá-lo formalmente e em lhe dar boas-vindas. Tradicionalmente, oferece-se-lhe também um copo d’água.

Talvez tenha definida preferência por um costume. Talvez ache que a acolhida demorada é desperdício de tempo. Ou, talvez seu conceito seja de que a saudação breve é apressada demais, ou até mesmo rude. Mas, pode ser tolerante para com as maneiras dos outros? Isso contribuirá para melhores relações.

Ritmo de Vida e Pormenores

O costume de saudar formalmente as pessoas de modo demorado pode ser melhor entendido quando se considera o ritmo de vida em Gana. Parece que, numa sociedade altamente industrializada as pessoas costumeiramente fazem um horário para suas atividades e efetuam pequenas corridas contra o relógio o dia inteiro. Mas, isto não se dá com os ganenses. Geralmente levam a vida lenta e calmamente. Acha ser frustradora a sua despreocupação com o tempo? Ou vê méritos em sua forma descontraída de vida?

Os americanos e europeus também ficam preocupados com pontos específicos e pormenores. Dão atenção às estatísticas de população, a tabelas precisas de viagem, a tonalidades, a nomes das plantas e assim por diante. Mas, o ganense em geral não se importa com os pormenores. Por exemplo, talvez se pergunte a um ganense a respeito da morte de uma pessoa: “Que idade tinha o cavalheiro?”

“Oh, era bem idoso, tinha uns 120 anos”, talvez seja a resposta. Mas, isso só quer dizer idoso. Ninguém realmente calculou os anos. Simplesmente não é considerado importante aqui.

Examinando mais a fundo o assunto, poder-se-ia perguntar: “Qual foi a causa de sua morte?”

“A febre”, ou: “Não sabemos”, talvez seja a resposta resignada. E, afinal de contas, realmente importa? O resultado é tão final se a pessoa souber ou não souber a causa. Pelo menos é assim que os ganenses costumeiramente arrazoam.

A Família

Em Gana, família é um grande clã que funciona bem semelhante a uma firma. Diversas gerações de parentes costumeiramente vivem juntas num cercado da família. Isto representa segurança, pois, teoricamente, a pessoa goza do apoio do inteiro grupo de parentes, cujo número, riqueza e poder se acham sempre à sua disposição. O ganense apresentará alguém, dizendo: “Este é meu irmão.” Mas, tecnicamente, a pessoa talvez seja apenas um primo.

Em outros lugares do mundo as famílias são usualmente menores e menos intimamente unidas. Ao falar de sua família, o europeu ou americano mencionará que sua mãe passa bem. “Ela tem sua própria casa e vive sozinha”, talvez diga a seus amigos ganenses.

“Ela não vive inteiramente sozinha?” — interrompe alguém.

“Oh, sim, ela é bem capaz de cuidar de si mesma”, é a resposta.

“Que coisa terrível! Quão solitária! Como é cruel deixar sua mãe viver sozinha, e não cercada de filhos e netos, sobrinhas e sobrinhos!” — será a reação.

A pessoa talvez se arrependa de ter mencionado sua mãe. E fica cuidadoso de não dizer uma palavra sequer sobre os asilos de velhos que são comuns lá em seu país. Inclina-se a achar méritos no estilo de vida familiar africano, com sua íntima associação?

Para o americano ou europeu, a poligamia deveras poderá parecer algo estranho, mas, na África, é uma forma de vida comum e aceitável. A facilidade com que é aceita é indicada por estas apresentações comuns: “Esta é a esposa de meu pai”, ou: “Este é meu irmão — por parte de pai, mais tem outra mãe.”
Consciência do Nível Social e Empregados

Os ganenses são muito cônscios do nível social. A idade concede à pessoa um alto nível. O dinheiro também. Os homens são tidos como num nível mais elevado que as mulheres. E as pessoas cultas são consideradas em melhor nível que as incultas. Os membros mais jovens da família, embora adultos, têm pouca influência. Aprova tal consciência do nível social?

Uma ajuda para se manter o nível social em Gana é a disponibilidade de empregados baratos. Segundo seus recursos, um homem gradualmente tem um empregado doméstico, um garoto para lavar, um jardineiro, um motorista, e assim por diante. Quase toda dona de casa de recursos moderados possui empregada. Usualmente ela é adquirida quando jovem, sendo possível que tenha de oito a dez anos de idade. Ela recebe muito pouco de salário, e espera-se muita coisa dela no cumprimento das tarefas domésticas. Sente pena da empregadinha?

No entanto, a mocinha obtém benefícios. Sua patroa é responsável de que obtenha educação básica, ou, pelo menos, de que se lhe ensine uma profissão tal como costurar, vender ou seja lá o que for que a própria senhora faça. Cuida-se dela como parte da família. Ela aprende a assumir responsabilidade, a cozinhar e cuidar duma casa, treinamento este que a tornará uma esposa desejável.

Costumes de Casamento

Em Gana, é costumeiro pagar-se o preço da noiva. O preço comum para a noiva varia grandemente segundo a comunidade, o nível social de sua família, sua instrução e sua beleza. Será que este costume de comprar a noiva lhe parece um pouquinho interesseiro? Mas, possui realmente aspectos práticos.

O dinheiro fornecerá à noiva as coisas necessárias, tais como utensílios de cozinha e outros itens domésticos para começar seu novo lar. No preço da noiva talvez esteja incluída fazenda para vestidos, habilitando-a a vestir-se bem depois do casamento. Muitos membros da grande família contribuíram para a educação e treinamento da jovem, assim, o prospectivo noivo mostra sua apreciação por lhes dar um presente. Todos estes arranjos levam tempo, às vezes anos, em especial se o homem não estiver muito bem de finanças e tiver de pagar a prestação.

Quando finalmente chega o dia do casamento, o casal é apresentado publicamente no seu melhor. Os amigos íntimos acompanham os recém-casados até seu novo lar. Os dias seguintes são costumeiramente gastos pelo casal em visitar aqueles que ajudaram a fazer os arranjos e lhes agradecer. Os amigos, também, os saúdam em seu novo lar, e especialmente a noiva deve visitá-los diariamente para ver que tudo esteja bem.

Será que pensa: “Que coisa horrível! Tão pouca privatividade”? Pensará assim se for americano. Mas, em Gana, sair em lua-de-mel seria visto com suspeita. De que estão fugindo? — ficariam pensando as pessoas. Que costume prefere?

Ter e Criar Filhos

Para alguns, o companheirismo é considerado de importância máxima no casamento. Os ganenses, contudo, dão importância primária a ter filhos. Com efeito, quando a mãe dá à luz dez filhos, há uma celebração em que uma ovelha é dada de presente. “À mulher, naturalmente, por toda a dureza que enfrentou dez vezes”, talvez conclua. Não, mas antes é dada ao homem. Isto é porque cuidou de dez filhos, e estes, segundo o antigo sistema de clã, aumentarão a população e o prestígio da clã da mãe.

Um ganense que visitou Nova Iorque não apreciou o costume ali de se cuidar das crianças, observando que muitas mulheres “puxavam seu bebê numa caixa na frente delas e seguravam seu cachorrinho no colo”. Em Gana os bebês são usualmente presos às costas da mãe. O bebê fica seguro, as mãos da mãe ficam livres e as parafernálias são reduzidas ao mínimo. Sem dúvida concordará que há mérito neste costume.

Também, o ganense bem que poderia ficar perturbado com o costume americano ou europeu de dar muitos brinquedos às crianças, ou de favorecê-las com seu próprio prato especial, sua própria cadeira e até mesmo seu próprio quarto. Não se está cuidando da criança como se fosse um adulto? — talvez pergunte.

A criança africana, por outro lado, é apenas um do grupo. Ao invés de ter um quarto só para si, compartilha sua esteira de dormir e faz jus a uma banqueta para sentar se nenhum adulto precisar dela. Vê-se cercada por uma multidão de parentes, e come da mesma tigela que seus pais e amigos. Dispõe de poucos brinquedos comerciais, mas utiliza sua imaginação e engenho para fabricar seus próprios brinquedos. É amada e se cuida bem dela, mas não é mimada. Há mais probabilidade de que cresça sentindo respeito a todos os adultos.

Não raro, quando chega a aprender sobre os costumes de outros povos, a pessoa os considera estranhos ou até mesmo objetáveis. Mas, quando os examina mais criteriosamente e de forma objetiva, com freqüência acha méritos neles, efetivamente, a ponto de apreciar mais alguns deles do que os seus próprios costumes. Verificou ser este o caso?

in Despertai de 8/4/1972 pp. 5-8

Provérbio da semana ( 19:12 )

A fúria do rei é um rugido igual ao dum leão novo jubado, mas a sua boa vontade é igual ao orvalho sobre a vegetação.

OBRIGADO RUI COSTA!

AMOR MEU, DOR MINHA

DOR MINHA QUE BATES NO CORAÇÃO,
OLHOS TEUS QUE CRUZAM COM A PAIXÃO;

PARA ONDE FORES CONTIGO IREI,
ONDE ESTIVERES AÍ FICAREI;

NA ROTA DO AMOR BUSCAMOS SINTONIA,
SENDO O MAIS IMPORTANTE A COMPANHIA;

FELIZ AQUELE QUE TE AMA,
E QUE PODE ALIMENTAR A CHAMA;

FICAREI. FELIZ. SINTO O TEU ABRAÇO FORTE,
SINTO QUE O AMOR NÃO ALIMENTA A MORTE;

POR TUDO ISTO UM ADEUS NÃO PERMITO,
NO NOSSO CORAÇÃO O AMOR NÃO É MALDITO.