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segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Quem dera que os faróis pudessem falar


SEM dúvida já nos viu de sentinela nas costas rochosas por todo o mundo. Talvez tenha sido no Canadá, EUA, no Cabo da Boa Esperança, assolado pelo vento, nas ilhas espalhadas dos sete mares, ou, talvez, próximo das praias convidativas e ensolaradas de Portugal, onde por acaso estou localizado. Num dia de sol, pode-me ver atingindo uns 54 metros acima do nível do mar no ponto mais ocidental da Europa. Sou um farol.
Minha luz intermitente é bem-acolhida visão para os que estão no mar escuro e agitado pelas tempestades. Até mesmo o som lastimoso de minha buzina de cerração é confortadora quando dou sinal para os ouvidos daqueles que não podem ver. Mas, já se quedou imaginando como é que nós, os faróis, surgimos, e quando? Como acha que chegamos à nossa atual condição vital nas rotas marítimas do mundo?


Um Pouco de História dos Faróis


Um dos meus ancestrais foi incluído entre as sete maravilhas do mundo antigo. Por volta de 280 A. E. C., Ptolomeu II construiu um torre maciça de mais de 120 metros na ilha de Faros, um pouco afastado de Alexandria, Egito. No alto da torre, uma fogueira de lenha era mantida acesa para orientação segura da navegação mediterrânea. O Farol de Alexandria, aquele antigo farol, derivou seu nome da ilha e marcou o nascimento da farologia, a ciência de projetar e construir faróis. Esta antiga história também se acha refletida na palavra portuguesa para isso, a saber, farol.
Foi durante o século dezesseis, contudo, quando os homens começaram a abrir rotas comerciais, que realmente nos tornamos famosos. Um dos meus colegas faróis mais antigos que ainda existem pode ser encontrado na costa noroeste da Espanha, em La Coruña. Foi reconstruído por volta de 1634 E. C., e contém parte da torre construída durante o reinado do Imperador Trajano, de Roma (98-117 E. C.). Trata-se apenas de um dentre um bom número que os romanos construíram pelas costas da Europa. Depois da conquista da Bretanha, por exemplo, construíram faróis em pontos agora identificados como Dover e Bolonha. Meu primeiro parente estadunidense foi estabelecido na Ilha de “Little Brewster”, perto de Boston, Massachusetts, no ano de 1716.
No ínterim, tremendos avanços foram feitos na farologia. Os muitos estágios que atravessamos podem ser assinalados pelos materiais usados para iluminação. Começando com um clarão de fogueira de lenha, temos utilizado desde então o carvão, velas, lâmpadas de óleo, petróleo e eletricidade. Atualmente, ondas de rádio e energia atômica se acham em uso.


Localização dos Faróis


As pessoas muitas vezes se quedam pensando no que determina a localização dum farol. Alguns se acham relativamente perto do nível do mar, ao passo que outros encimam de forma exaltada as cercanias como mísseis prontos para serem lançados no espaço sideral. Há diversos fatores a ser considerados, não sendo de desprezar o perigo imediato a evitar, tal como perigosos bancos de areia ou a linha costeira irregular. Daí, há a disposição geral do terreno circundante. Bem vital, também, é a distância a ser coberta por nossa luz.
No Rio Tejo, por exemplo, os faróis não são de grande elevação porque a distância a ser coberta é curta. Minha altura, por outro lado, permite que minha luz seja vista por uns quarenta e oito a cinqüenta e quatro quilômetros mar adentro numa noite clara. É verdade que minha torre só tem 6,70 metros de altura, mas se eleva em rocha maciça a mais de 47 metros acima dos tons mutantes azuis e verdes da água lá em baixo.
O alcance geográfico de uma luz depende de duas coisas: sua altura e a altura do observador acima do nível do mar. Por exemplo, num dia claro, imaginemos alguém no convés de um navio a uns 4,50 metros acima da superfície da água. Nessa altura, o horizonte se acha a 4,44 milhas náuticas. O alcance horizontal de uma luz a uns 36 metros acima do nível do mar é de 12,56 milhas náuticas. Assim, se adicionarmos os dois números, temos o alcance geográfico da luz, a saber, dezessete milhas náuticas ou mais de 31 quilômetros.


Para Ser Vistos e Ouvidos


Visto que de nossa luz dependem vidas, tudo é feito para mantê-la brilhando. Quase tudo que é necessário para manter brilhando a minha luz é fornecido em dobro, e alguns itens em triplo. Disponho de seis geradores, dois dos quais têm trinta cavalos-vapor. Além do meu uso de baterias, disponho de outro sistema baseado em petróleo.
Minha luz é produzida por uma lâmpada de 3.000 watts afixada no centro de uma lente de prisma dióptrico, de um metro e meio de diâmetro, modelada um tanto parecida a um barril. Isso significa que se trata do tipo de lente prismática que auxilia a visão por refratar e focalizar a luz. Esta lente tem 1,80 metros de altura. Parte da lente é obscurecida por uma tela, de modo que a luz fique oculta por diversos segundos cada vez que a lente gire. Desta forma, produzo quatro relâmpagos consecutivos de luz branca, cada um de três segundos de duração, seguidos de seis segundos e meio de escuridão.
Cerca de vinte faróis principais cobrem a linha costeira de Portugal, e cada um deles tem sua personalidade distinta. Os navegantes experimentados sabem de cor nossas freqüências diferentes de luz, e podem dizer imediatamente onde se encontram ao verem o padrão de nossos relâmpagos. Para os de menos experiência ou de memória mais fraca, nossos códigos se acham alistados nos manuais e cartas de navegação.
A luz não é nossa única dádiva aos navegantes. Quando a cerração ou outras condições meteorológicas obscurecem nossas poderosas luzes, ainda dispomos de som para oferecer. Quem não é marinheiro talvez não aprecie o som monótono de nossas buzinas de cerração, mas é música agradável para os que estão envolvidos numa cerração lúgubre num mar escuro como breu. Então é que aparece outra faceta de minha personalidade. Solto três sinais de quatro segundos de duração cada um, e daí fico quieto por dezessete segundos. Tais sinais penetrarão pelo silêncio duma noite de cerração a uma distância de mais de 31 quilômetros.
Sendo eu um farol moderno, empoleirado num ponto estratégico de terreno, ainda disponho de outra forma de fornecer ‘luz’ aos em perigo. Uso os radio-faróis. Cada um de nós, faróis, dispõe de seu próprio rádio ou código Morse para identificar quem é e onde está. Meus sinais de rádio podem ser captados pelos navios equipados de rádio a uma distância de 54 milhas náuticas (97 km). Por fazer a leitura ou comparação com qualquer outro sinal, podem determinar, dentro de meia milha náutica, mais ou menos, exatamente onde estão. Envio meu código a cada vinte segundos. Quando o mau tempo o exige, envio meu sinal muitíssimo apreciado a cada cinco segundos.


Nossa Devotada Equipe


Nem todos dentre nós, faróis, podem fazer tudo por si mesmos. Deveras, apreciamos os homens que cuidam de nós e nos mantêm sempre prontos para realizar nosso serviço salva-vidas. Dispõem de excelentes oportunidades para ver a beleza da obra-prima de Deus no por de um sol carmesim sobre um mar silencioso e estático, ou o poder das ondas, ao baterem implacavelmente contra a praia rochosa. Diz-se que para se adaptar à solidão e à rotina da vida de um faroleiro, a pessoa tem que nascer com esse dom ou ter ‘sangue de marujo’ nas veias. Será verdade? Não, porque os faroleiros vivem sob ampla variedade de condições.
Muito depende da localização do farol. Aqui no Cabo da Roca, estamos apenas a uma hora de carro de Lisboa. Assim, os nove homens que cuidam de mim não se acham de forma alguma isolados. No entanto, há muitos faroleiros cujo único contato com o mundo se dá uma vez por mês ou até com menor freqüência, quando o navio de suprimentos paga sua visita regular. O trabalho de faróis mais antigos e isolados está sendo agora feito por equipamento inteiramente automático, operado por controle remoto do território continental.
E a vida dum faroleiro não é de jeito nenhum enfadonha. Durante o dia, fazem-se observações em intervalos regulares que contribuem para o serviço meteorológico. As informações sobre as condições do mar, a força dos ventos e sua direção, a pressão barométrica e as condições das nuvens são reunidas regularmente, de modo a se prover a previsão meteorológica. A aviação, também, tira proveito de nosso serviço, pois envio um sinal luminoso que serve como indicação para os pilotos aéreos de que se aproximam do continente europeu.
Antes de terminar, devo lembrar-lhe que também constituo uma atração turística. Assim, da próxima vez que quiser fazer algo diferente, algo educativo, por que não me visitar? Talvez não possa vir a Portugal, mas, se morar próximo da costa, deve haver um de meus parentes perto do leitor. Estou certo de que o leitor e sua família apreciariam aprender mais sobre nossa família de faróis, em primeira mão, e certamente derivaria satisfação com a beleza selvagem e natural que usualmente cerca um farol. Verificará que os homens que cuidam de nós são gente feliz e amigável, e que alegremente lhe contarão algo mais sobre os valiosos serviços que presto, coisas que eu mesmo gostaria de lhe contar — e quem dera que os faróis pudessem falar!


in Despertai de 22/5/1971 pp. 24-26

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OBRIGADO RUI COSTA!

AMOR MEU, DOR MINHA

DOR MINHA QUE BATES NO CORAÇÃO,
OLHOS TEUS QUE CRUZAM COM A PAIXÃO;

PARA ONDE FORES CONTIGO IREI,
ONDE ESTIVERES AÍ FICAREI;

NA ROTA DO AMOR BUSCAMOS SINTONIA,
SENDO O MAIS IMPORTANTE A COMPANHIA;

FELIZ AQUELE QUE TE AMA,
E QUE PODE ALIMENTAR A CHAMA;

FICAREI. FELIZ. SINTO O TEU ABRAÇO FORTE,
SINTO QUE O AMOR NÃO ALIMENTA A MORTE;

POR TUDO ISTO UM ADEUS NÃO PERMITO,
NO NOSSO CORAÇÃO O AMOR NÃO É MALDITO.