É ESTARRECEDORA a frustração que resulta quando a criança não sabe ler com êxito. Mas, ao pensar bem, isto, de forma alguma, nos deve surpreender. O que poderá fazer uma criança em idade escolar que é deficiente na leitura? Poderá aprender o máximo possível de matemática, de história ou de qualquer outra matéria que exija estudo em particular se tiver dificuldade em entender os compêndios que fornecem as informações? Será que se sentirá no mesmo nível dos colegas de escola quando sua deficiência na leitura impede que mantenha o passo dos outros da sua própria idade? Poderá isto conduzir à revolta contra a escola e ao desprezo da autoridade que a representa?Algumas autoridades dizem que tais coisas podem acontecer e de fato acontecem, e que um dos maiores problemas disciplinares nos ginásios se encontra entre os que não sabem ler. Além disto, a Sociedade Nacional em Prol do Estudo da Educação disse, no seu relatório de 1948 (publicado pela Universidade de Chicago e editado na revista Collier’s, de 26 de novembro de 1954): “Um número surpreendentemente grande de ginasianos e universitários são seriamente deficientes em muitos dos aspectos básicos da leitura. Em resultado, são incapazes de preparar eficazmente suas lições e sentem-se, portanto, frustrados nos seus esforços de cumprir seus deveres ginasiais e universitários.”Portanto, é de suma importância saber ler com facilidade e compreensão. Contudo, nos EUA, no início da Segunda Guerra Mundial, 433.000 rapazes foram rejeitados no recrutamento militar especificamente porque não sabiam ler. Tendo as rejeições alcançado tamanhas proporções, o governo achou bom mudar seu programa e ensinar aos recrutas analfabetos os rudimentos da leitura e da escrita, a fim de que as forças armadas não perdessem outros milhares. Mas, mesmo isso não representa nem de perto toda a história. Quase todos nos EUA sabem ler atualmente, mas para muitas pessoas a leitura é ainda tarefa difícil. Evitam a leitura simplesmente por ser uma tarefa. Nunca chegaram ao ponto de poderem ler com suficiente facilidade, interesse e compreensão para realmente ter prazer nela.Não obstante, jamais se deve subestimar o valor de saber ler bem. Quando se perguntou ao Professor Leslie B. Hohman, da Faculdade de Medicina da Universidade de Duke: “Que perícia ou atitude consideraria essencial para conseguir uma boa educação?” ele replicou: “Eu insistiria com afinco na leitura. . . . Com a exceção de uma mínima porcentagem de crianças com lesão cerebral, creio que todas as crianças possam ser ensinadas a ler. Sem dúvida, há numerosas crianças que podem ser ensinadas a ler mas que não estão sendo.”Disse o então presidente da universidade de Yale, A. Whitney Griswold: “A meu ver, ensinar o máximo número de crianças a ler com facilidade, interesse e compreensão era quem os objetivos mínimos, se não for o objetivo mínimo. Via de regra, as escolas não alcançam nem este mínimo.” Por que é tão importante a leitura? Simplesmente porque abre caminho para todas as coisas já escritas. Contudo, visto que as escolas estadunidenses estão atualmente superdotadas, é claro que algumas crianças jamais adquirem este instrumento básico da aprendizagem — jamais aprendem realmente a ler. Cursam aos trambolhões o primário e o ginásio, às vezes se considerando sem inteligência. E, ainda que finalmente se formem com diploma, vieram a sofrer danos e humilhações durante todos os anos escolares pelo simples motivo de que jamais se lhes ensinou a ler bastante bem para aprenderem outras matérias a contento. Conforme indicaram os editores do Ladies’ Home Journal, tais estudantes têm “aprendido principalmente a odiar tudo que se pareça a um livro”, todavia, “com turmas menores e alguma atenção individual nos primeiros anos, talvez se tornassem leitores prazerosos”.A Sra. Muriel Alexander, então diretora da Escola de Admissão ao Ginásio Kelly Miller, em Washington, D. C., protestou: “Temos cem crianças nesta escola que não sabem ler nem escrever. Imaginem — na escola de admissão ao ginásio!” Certo professor de Toledo, Ohio, EUA, disse: “Não é lastimável que no oitavo ano ainda não tenhamos tempo para ensinar tantos apenas a ler? Já não seria tempo de se fazer algo a respeito? Já é tarde demais para demasiadas pessoas.”
Alguns dos Problemas
Há provavelmente diversos motivos por que não se ensinam as crianças a ler bem. Um dos mais patentes é que simplesmente não há suficientes professores. Eis um exemplo típico em certa cidade grande. O número médio de alunos por turma era de 38, mas algumas turmas tinham até 58 alunos. O tempo que a professora podia dedicar a cada aluno, portanto, era limitadíssimo. Era possível que desejasse concentrar-se nos estudantes que precisavam de ajuda especial, mas simplesmente não tinha tempo para dar-lhes a quantidade de ajuda especial de que precisavam.Outro assunto a se considerar é o método que se deve usar no ensino. Em princípios de 1900, as escolas foram ao extremo em ensinar os estudantes a pronunciar as letras e sílabas das palavras. Fizeram do uso da fonética um fetiche, e treinavam os alunos a pronunciar laboriosamente até palavras simples como sala por “saa-la”. Liam-se as palavras pedacinho por pedacinho, ao invés de como unidade. Os críticos, ridicularizando este sistema fonético, tacharam-no de método de “gemer e grunhir”. Na revolta contra a fonética fanática, “o reconhecimento da palavra”, “a leitura só com um olhar”, ou “a total configuração da palavra”, tornaram-se quase sagrados. O garoto devia dar uma olhada na palavra e pronunciá-la logo. Devia aprendê-la como um todo, não nas suas partes. Ele identifica a forma e a aparência inteira da palavra mediante uma gravura no caderno, ao invés de lutar com sílabas separadas. Todavia, há pontos a favor de ambos os métodos, e muitas pessoas acham que ambos foram levados ao extremo.A ênfase na “preparação” da criança para a leitura é outro ponto freqüentemente discutido. Glenn McCracken, diretor duma escola em New Castle, Pensilvânia, EUA, crê que “‘a preparação para a leitura’ se tenha tornado um dos termos mais excessivamente usados do dia”. Disse ele: “Usamo-lo para defender nossa incapacidade de ensinar mais crianças a ler. Tantas crianças deixaram de se aproveitar da instrução na leitura no nível inicial que chegamos à conclusão de que não estavam preparados para ler.” A opinião dele é: “É nosso programa que não está preparado e não os alunos.” Outro supervisor disse: “Vou falar-lhes francamente, não sabemos na realidade se nossos alunos estão preparados ou não. Simplesmente prosseguimos e lhes ensinamos a ler!”
Achar Uma Solução
Como equacionam as escolas o problema da leitura? Algumas estão criando programas especiais para melhorar a leitura que, conforme relatado, estão conseguindo resultados excelentes. Tal programa estava em andamento em St. Louis, Missouri, EUA. Criaram-se pequenas “turmas de vinte” para o ensino concentrado das perícias básicas da leitura, da soletração e da aritmética a estudantes escolhidos do terceiro ano que têm deficiência especial nestes campos. Escolheu-se o terceiro ano porque, do quarto ano em diante se espera que o aluno obtenha considerável informação dos livros que precisa estudar sozinho, e não pode ter êxito se não souber lê-los.Relata-se que, com este treinamento especial, crianças que não sabiam ler nada foram ensinadas a ler em questão de apenas poucos meses, e que a maioria das crianças dobram sua eficiência durante os primeiros quatros meses. G. M. White, escrevendo no Ladies’ Home Journal, disse acerca das crianças que mostraram tal consecução espetacular: “Ao adquirirem os instrumentos básicos da aprendizagem, quase que desaparecem os problemas de comportamento.” Relata ainda que o Superintendente Auxiliar William Kottmeyer, encarregado deste programa para melhorar a leitura nas escolas públicas daquela cidade, disse sem rodeios: “Todas as crianças habilitadas para assistir às aulas regulares das escolas públicas podem ser ensinadas a ler. Se não aprendem, é porque não se lhes ensina.”Tais resultados, porém, são conseguidos em turmas pequenas em que os professores podem dar atenção especial a cada aluno, e quando o uso sábio e correto tanto da fonética como do treino (estas palavras horrendas aos ouvidos de muitos educadores modernos) foi acompanhado de êxito definido. Poucas pessoas sugeririam que seria sábio voltar aos métodos dos princípios de 1900, mas um número considerável de pessoas acha que os métodos modernos foram longe demais. Os programas para melhorar a leitura se estão expandindo, mas é interessante notar a opinião do Superintendente Ernest C. Ball, de Mênfis, Tennessee, EUA, que se jactou de que suas escolas não tinham nenhum programa para melhorar a leitura. Explicou ele: “Nós a ensinamos do modo correto desde o começo.”Ensiná-la do modo correto desde o começo estaria, com toda probabilidade, bem mais dinheiro e professores do que se acham atualmente disponíveis, a fim de que se pudesse dar atenção individual pelo menos às crianças que têm necessidade especial dela.
Para que Seu Filho Leia
Tudo isso é bem entendido por todo pai. Como está seu filho nesta questão? Sem dúvida é preciso usarem-se vários métodos nas escolas se os alunos de capacidades e talentos amplamente variados hão de fazer tanto progresso quanto possível. Mas, por certo o genitor não é deixado fora do treinamento de seu filho.A maioria das crianças leriam melhor se lessem mais. Via de regra, o bom leitor é aquele que lê bastante. Na leitura, como em outros campos, não há substituto para o treinamento e a experiência. Mas, será que é possível tornar isto um prazer e não apenas uma tarefa maçante? É possível, sim. Pode ajudar seu filho a desejar ler, a desejar saber o que se encontra nos livros. Pode ler-lhe coisas interessantes, aguçando-lhe a curiosidade a respeito de estórias em livros, e, pelo seu próprio exemplo, pode mostrar-lhe a alegria de ler as coisas escritas.A criança que deseja realmente aprender algo, em geral o aprende. Portanto, uma atmosfera no lar conducente à leitura a animará. É claro que, a fim de ter tal atmosfera, os próprios pais têm de gostar de ler coisas boas e tirar proveito delas — dando assim ao filho o exemplo. Também, têm de fornecer material para a leitura que seja de interesse para o filho, que não seja além da sua capacidade de ler, que o filho possa compreender e que lhe suscite à curiosidade a tal grau que deseje esforçar-se de lê-lo. Haverá bastantes coisas para desviar-lhe a atenção, principalmente a televisão. Mas, a televisão não substitui a leitura. Os pais podem entreter seus filhos por ler para eles — tornando-o um prazer, assim como a televisão é um prazer.O sentimento da aprovação e apreço paternos das suas consecuções pode também servir de incentivo para o filho. Quando os esforços do filho não foram tão bem sucedidos quanto o genitor desejava, o encorajamento, junto com louvor ao esforço bem feito, ainda consegue muito mais do que a condenação. Mas, visto que o prazer obtido de certo ato não vem na frente de aprender a fazer tal ato, e visto que aprender envolve trabalho, talvez seja necessário também insistir que o filho se empenhe na tarefa de aprender a ler.Nos dias atuais, é quase essencial a pessoa saber ler com facilidade e compreensão. Isto se dá se desejar aprender simplesmente as coisas que precisa aprender na escola, se desejar tornar-se um adulto inteligente e maduro, se desejar melhorar sua mente, ou se desejar apenas colher informações de modo a tirar conclusões sãs e inteligentes. A leitura não perde a popularidade entre aqueles que sabem avaliar o conhecimento e o prazer que traz, ainda que esteja perdendo a popularidade entre aqueles que jamais aprenderam a ler bastante bem para que não seja uma tarefa maçante.O leitor tem algo a dizer sobre a categoria em que se encontra, e tem algo a dizer sobre a categoria em que se encontrarão seus filhos. Sabe ler bem — lendo com facilidade, compreensão e entendimento? Se não, poderá melhorar sua leitura pelo estudo e a prática. Será que seus filhos sabem ler bem? Se não, então poderá ajudá-los pelo exemplo, pelo interesse, por tornar-lhes a leitura realmente convidativa, e por cuidar de que façam o esforço necessário para aprender esta perícia básica que serve de porta para tantos outros tipos de conhecimento.
in Despertai de 22/1/1971 pp. 24-27
Sem comentários:
Enviar um comentário