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segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Escavar para viver


ESCAVAR é trabalho árduo! Quem já cavoucou a terra com enxada ou pá pode testificar a labuta envolvida. Então, imagine escavar para viver, quer dizer, escavar porque sua própria vida depende disso. Mais ainda, pense numa vida inteira gasta num buraco no chão, e em volta deste. Uma perspectiva um tanto triste, pensaria. Mas, isto se dá porque o leitor vive na superfície, sem a inclinação natural de viver no subterrâneo.
Sendo assim, o que é que se pode dizer sobre ter uma moradia debaixo do chão? Quão prática é tal habitação? Quanto tempo levaria para escavá-la? Que sorte de experiências poderia alguém esperar ter, ao viver debaixo da superfície? Como seria criar uma família, comer e dormir no interior da terra?
Certos peritos na matéria forneceram as respostas a estas perguntas e a muitas outras relacionadas, pela experiência real de viver no subterrâneo. É possível que até haja alguns destes peritos andando aí por perto da sua casa. Quais os nomes deles? Eis alguns: Primeiro, conheça a Sra. Toupeira. É, talvez, o maior escavador vivo! Daí, há o rato-canguru, a marmota, o texugo, o criceto, o geômis, a raposa, o cinômis e, naturalmente, aquele perito que leva o nome oficial de “Oryctolagus Cuniculus”, mas a quem nós todos conhecemos por Sr. Coelho. Considere o modo de viver de alguns destes escavadores.


Feitos sob Medida


Não pode haver a mínima dúvida de que a Sra. Toupeira foi projetada e construída de modo especial para levar a vida de escavador. O aspecto dela é um tanto esquisito. O focinho longo e pontudo, os olhos minúsculos, as orelhas pequeninas e a pele aveludada que se pode alisar em todos os sentidos, tudo a equipa para ser o que é — um dos melhores escavadores vivos. No lugar em que estariam geralmente os ombros, a toupeira tem largas patas dianteiras, semelhantes às do urso, munidas de unhas afiadas de grande vigor. Estas lhe servem de escavadeiras.
As toupeiras de toda a sua espécie podem escavar à razão de três e meio a quatro e meio metros por hora, muito embora estes pequenos mineiros não pesem mais que uma xícara e pires, ou seja, cerca de oitenta e cinco gramas. Surpreendidos acima da terra, não fogem. Ao invés, simplesmente começam a escavar e desaparecem quase instantaneamente. Uma escavadeira a diesel, de tamanho médio, teria de escavar de contínuo até desaparecer da vista à razão de cerca de 800 metros por noite a fim de igualar esta escavadora extraordinária.
Mas, como é que a Sra. Toupeira escava? Emprega o mesmo método estranho para escavar seus dois tipos de túneis — um de quinze centímetros de diâmetro que corre paralelo à superfície, a poucos centímetros debaixo do solo, e o outro, seus alojamentos, a cerca de 60 centímetros mais para baixo. Parece que usa seu focinho para encontrar lugares próprios para escavar, daí joga a terra para o lado com poderosas patas dianteiras. Torcendo o corpo para os lados e se impelindo para cima com as patas, consegue progredir por se comprimir alternadamente contra os lados e o teto, apertando as paredes de sua galeria.
A toupeira consegue evitar romper à superfície da terra ao escavar às cegas, hora após hora, porque possui um nível de bolha de ar embutido que funciona à base dos fluidos que lhe enchem o ouvido interno. Os humanos têm o mesmo sistema “do ouvido interno”, pelo qual se mantém o equilíbrio físico. Para ilustrar isso, só temos de considerar a pessoa que, não tendo andado de bicicleta por muitos anos, acha que ainda pode andar com facilidade, mesmo sem uso das mãos, se aprendeu na infância a manter o equilíbrio por meio duma ligeiríssima inclinação do corpo.
Por todo o continente norte-americano, estes túneis de toupeira são muito comuns. Às pessoas na superfície parecem montículos de terra em movimento. Na realidade, alguém poderá ver este sulco movimentar-se para frente ao passo que a toupeira se torce e retorce através do subsolo em busca de alimento. Sim, é em busca de suprimentos — minhocas, lagartas e assim por diante — que ela trabalha tão arduamente. Escava realmente para viver.
Tal labuta estrênua, naturalmente, deve criar um apetite enorme. Ela come o equivalente a de um a dois terços de seu próprio peso, todos os dias. Um homem que pesa 75 quilos teria de comer de 25 a 50 quilos de comida por dia a fim de igualar isso! E mesmo a aproximação da morte não parece diminuir seu apetite. Sabe-se de toupeiras, mortalmente feridas, que comeram minhocas colocadas ao seu alcance, e com tanta avidez quanto um homem esfomeado comeria espaguete. E tal comparação é bem apta, pois a toupeira começa com uma extremidade da minhoca suculenta e ao mesmo tempo vai endireitando os emaranhados da minhoca e lançando fora a terra solta com as patas traseiras.
Ao escavar por debaixo da superfície, a Sra. Toupeira empurra a terra solta para trás dela, e daí, de vez em quando, abre um buraco até à superfície e se livra da terra solta. Daí fecha o buraco e prossegue com a escavação. Considerando-se seu tamanho, talvez de dezoito ou vinte centímetros ao todo, a toupeira é trabalhadora diligente, e sua perícia em cavar túneis, embora primariamente para satisfazer seu próprio apetite, serve ao homem de forma muito prática. As ramificações dos túneis subterrâneos servem quer para escoar a água excedente das regiões baixas quer para levar às regiões secas a umidade tão necessária. Além disto, o enorme apetite da toupeira acaba com uma multidão de insetos que de outra sorte talvez disputariam com o homem as suas safras em cultivo.


Construtores de Montículos


Outro escavador de peso leve é o rato-canguru. Este nome lhe fica bem porque parece mesmo com um canguru em miniatura. Contudo, não se engane; não é canguru nem rato, e não está munido com a bolsa conveniente do canguru. É mais aparentado ao “ratinho de bolsa”.
E como é que o rato-canguru resolve o problema de habitação? Sua casa subterrânea se parece, vista da superfície, a um grande montículo, muitas vezes de quase cinco metros de diâmetro e dez centímetros de altura. Costuma haver de três a doze buracos do tamanho dum punho, perfurando-o. Estes são as entradas e saídas duma casa subterrânea que levou, possivelmente, várias gerações de ratos-cangurus nara construir. De modo que esta criaturinha, durante sua vida curtíssima de cerca de dois anos, escava não só para ela mesma viver, mas para a sua posteridade.
Se puder imaginar-se reduzido ao tamanho liliputiano destes pequenos escavadores — de cinco a oito centímetros de altura — tente imaginar-se comparecendo a uma “recepção”. Ao primeiro passo para dentro, fica inteiramente mergulhado em espessa escuridão. Munido de farolete, talvez note que o corredor é muito mais comprido do que o costumeiro. Há probabilidade de que este lugar fresco esteja cheio de galerias sem saída. Ao prosseguir ao longo do corredor, notará que, aqui e acolá, se amplia para formar um quarto. Um desses quartos, semelhante à despensa embutida, é uma cavidade na parede, do tamanho de um dedal, em que se armazena a comida.
Indo adiante pelo núcleo central, sem dúvida encontrará diversos quartos esféricos de cerca de vinte e cinco centímetros de largura. Todavia, um compartimento que talvez espere encontrar em qualquer residência bem organizada, não encontrará aqui. Não existem banheiros. Estes animalzinhos deixam seu excremento em qualquer lugar por todos os aposentos, sim, até nas despensas e nos corredores, sem nenhuma vergonha. Não obstante, o rato-canguru mantém limpíssimo seu próprio corpo.
É bem provável que a inclinação do rato-canguru para deixar indiscriminadamente seu excremento em toda parte contribua para um dos seus maiores problemas — hóspedes não convidados. De vez em quando é possível que um sapo se enfie na casa, ou mesmo uma muçurana, uma cascavel, uma centopéia, ocasionalmente uma cobra, um escorpião, uma viúva-negra, grilos, baratas ou formigas — atraídos pelos excrementos denunciadores. Que preço pago por falta de arrumação da casa!
Na sua excursão pelo conjunto residencial, pode acontecer que encontre um ou mais destes intrusos. Mas, agora, no fim sem saída do sistema de túneis, chegou ao dormitório, todo acolchoado de uma parede à outra. É 100 por cento projetado para uma soneca. O colchão é feito de capim, radículas e cascas de sementes. E o Sr. Rato-Canguru não dorme em cima do colchão como a gente. Introduz-se cuidadosamente nele e se agasalha num ninho quente de uns dez centímetros de diâmetro.
Lembre-se, também, de que ele é operário noturno. De modo que a hora de recolher nesta moradia múltipla vai desde o levantar até ao pôr do sol. Ao pôr do sol, esta criatura feito gnomo salta para a vida! E esta declaração não é exagero. Entenderia melhor se uma vez visse o rato-canguru caçar outro astro saltador profissional — o gafanhoto. O gafanhoto foge pulando, fazendo uma curva saltitante e aterrissa forçado, mais ou menos ao mesmo tempo em que o pequeno rato-canguru parte à caça, dando um pulo que impulsiona seu diminuto corpo em direção da vítima, sendo dirigido em vôo pelo rabo comprido. Mas, enquanto está em pleno ar, o gafanhoto escapa saltando de novo. Por fim, o rato-canguru alcança sua vítima, decapita o gafanhoto ali mesmo e armazena as partes restantes nas bolsinhas das bochechas para as guardar mais tarde em casa. Durante toda a noite prossegue o negócio importante de juntar alimento. Mas, a velocidade dele e a hora avançada logo cansam o espectador, de modo que deixamos o Sr. Rato-Canguru levar a sua vida noturna.


Um Escavador Que Gosta de Estar em Cima do Solo


E, então, conheça a Sra. Marmota. Eis um camarada que na língua inglesa tem diversos pseudônimos: woodchuck, groundhog (porco da terra) e os índios da América do Norte o chamavam “Monax”, que quer dizer “escavador”. Escava suas tocas por motivo bem diferente do da toupeira. A toca fornece lugar seguro para a hibernação, para dormir cada noite, para refúgio dos inimigos, e para criar os filhotes. Mas, a não ser para isso, a Sra. Marmota gosta do ar livre, onde pode mordiscar a vegetação verde e mandriar num lugarzinho sombreado ou aquecer-se no sol, conforme preferir.
Todavia, a marmota é escavadora perita. Prove sua toca de um dormitório e de vários outros compartimentos. Prefere que sua toca tenha pelo menos três aberturas; a entrada principal, marcada, em geral, por um monte de terra escavada; uma saída nos fundos que é difícil de se ver e que ela usa como “espreitador”; e um terceiro buraco que desce vários metros, conduzindo a canais embaixo. Em face de ataque no seu próprio castelo, se o pior acontecer, ela desaparecerá embaixo pelo terceiro buraco e escapará dos seus perseguidores no labirinto de passagens.
Depois do longo sono hibernal, os machos acordam primeiro e, sem considerar as condições meteorológicas, vão procurar uma fêmea para o ano vigente. O Sr. Marmota aproxima-se de cada toca com hesitação e o espectador pode saber facilmente quando há presente uma fêmea, pois o Sr. Marmota abana seu rabo alegremente e vai entrando. Não raro, porém, ele sai muito mais depressa! As fêmeas fazem discriminação, aceitando um pretendente e rejeitando outro. Ainda assim, volta para dentro da toca com determinação, até que seja definitivamente rejeitado ou aceito. Uma vez aceito, os dois vivem juntos durante aquele ano; no ano seguinte, começa de novo a busca.
Os filhotes nascem em princípios da primavera. Papai não é bem-vindo no viveiro, nem se permite que entre nele. A Sra. Marmota se arranja muito bem sozinha, amamentando os filhotes ao crescerem na escuridão até sua estréia no mundo brilhante lá fora. Pode imaginar o dia em que as novas marmotas vivazes saem das trevas subterrâneas pela primeira vez num sombreado pomar de macieiras ou numa verdejante campina silenciosa, salpicada com coloridas flores da primavera?
As marmotinhas relutam em deixar o leite morno, mesmo quando seus dentes afiados incomodam a mãe. Em geral, ela as repele rispidamente com bruscas palmadas ou empurrões. Mas, como as mães em todo o mundo, algumas têm o talento de treinar. Notou-se que certa mãe resolvia o problema de desmamar da maneira bem simples. Apenas afastava-se uns seis ou nove metros da toca para comer, uma distância além do alcance dos filhotes, que, então, se achavam obrigados a comer as folhas verdes perto deles.
Raras vezes, porém, a marmota vagueia muito longe da toca. Geralmente confina suas atividades a um quadrado de uns 150 metros, e amiúde a uma área muito menor. A toca lhe significa segurança, portanto fica perto dela. Dessemelhante do rato-canguru, a marmota inclui na sua toca um quarto para excremento, e o limpa de vez em quando. Sua velocidade de escavar é assombrosa. Pode esconder-se fora da vista num minuto; pode terminar tocas simples em um só dia.
Para a Sra. Marmota, os filhotes em crescimento apresentam um problema — o de espaço para viver. Começam a vida no viveiro principal, mas, ao engordarem, o espaço se torna inadequado. Por volta desse tempo, porém, a mãe já escavou mais fundo a toca — um “quarto” para cada filhote, na realidade. E a genitora visita cada filhote na sua toca separada várias vezes por dia. Ela escava não só para ela mesma viver, mas também para que sua família viva.
Portanto, estes habitantes do subterrâneo, a toupeira, o rato-canguru e a marmota, cada um da sua maneira característica, escavam para a preservação da sua própria espécie. Dotados pelo Criador do equipamento físico e das maravilhosas habilidades instintivas, provam realmente que são peritos em escavar para viver.


in Despertai de 22/3/1971 pp. 21-25

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OBRIGADO RUI COSTA!

AMOR MEU, DOR MINHA

DOR MINHA QUE BATES NO CORAÇÃO,
OLHOS TEUS QUE CRUZAM COM A PAIXÃO;

PARA ONDE FORES CONTIGO IREI,
ONDE ESTIVERES AÍ FICAREI;

NA ROTA DO AMOR BUSCAMOS SINTONIA,
SENDO O MAIS IMPORTANTE A COMPANHIA;

FELIZ AQUELE QUE TE AMA,
E QUE PODE ALIMENTAR A CHAMA;

FICAREI. FELIZ. SINTO O TEU ABRAÇO FORTE,
SINTO QUE O AMOR NÃO ALIMENTA A MORTE;

POR TUDO ISTO UM ADEUS NÃO PERMITO,
NO NOSSO CORAÇÃO O AMOR NÃO É MALDITO.