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segunda-feira, 15 de outubro de 2007

A vida entre os índios cheyennes


MUITAS são as estórias escritas sobre os índios da América do Norte. Algumas são verdadeiras, outras são fantasiosas, muitas são exageradas, e outras patentemente falsas. A imagem criada foi a de um jovem guerreiro quase nu sobre seu cavalo, ornado de penas e besuntado de tinta de guerra. Ao passo que isso foi verdade no passado, a maioria das pessoas reconhecem que a vinda do homem branco logo fez grande diferença para o índio. Talvez se quede imaginando como é a vida hoje para o índio em sua reserva.
Suponhamos que visitemos uma reserva dos índios cheyennes do norte, no sudoeste de Montana, EUA. A área é de cerca de 180.000 hectares, e foi reservada pelo governo dos Estados Unidos como propriedade e para o uso desta tribo. A maioria dos 3.000 membros da tribo vivem aqui de forma permanente. Pode ver porque se contentam em permanecer aqui. A beleza aqui é um tributo à majestade do grande Criador. Veja só aquelas colinas altaneiras cobertas de majestosos pinheiros e fragrantes cedros! Regale os olhos nos borbulhantes riachos e nos vales em que a grama silvestre cresce em abundância — é bem aquilo que faz vicejar o gado.
Devia estar aqui na primavera. Nessa época do ano, flores silvestres lançam cores vívidas por toda a parte da reserva. E, em fins do verão, os arbustos se curvam de tantas frutinhas silvestres tais como a ameixa e a cereja brava. A vida selvagem se acha em toda a parte — veados, coelhos, porcos-espinhos, linces baios, tâmias, e assim por diante. Talvez chegue até a ver uma aldeia típica de marmotas.


O Lar Indígena


Como seu guia, devo contar-lhe como vim a saber tanto sobre os índios cheyennes. Nasei, com efeito, em um dos três povoados desta reserva, uma cidadezinha chamada Lame Deer (Veado Manco). Meus pais não tinham ancestrais dentre os cheyennes do norte, de modo que não sou um puro-sangue cheyenne. Mas, sou um membro alistado na tribo.
Nos meus anos de infância, os índios viviam em pequenas barracas de um ou dois quartos usualmente construídas de toras de madeira e taipa. A mobília principal seria algumas camas, uma mesa, algumas cadeiras e um fogão de ferro gusa, a lenha. Era o segundo filho mais velho da família, dentre dez filhos, e provavelmente pensará que nossa casa de dois cômodos deve ter ficado bem superlotada. Ficava, sim, às vezes, quando o mau tempo nos mantinha dentro de casa. Mas, para um povo cujos ancestrais viviam em lugares bem amplos e usavam suas tendas cônicas feitas de pele de animal principalmente como abrigo, nossa casa não era tão limitadora como poderia pensar.
A eletricidade começava a ser usada em nosso distrito no início da década de 1940, e os únicos encanamentos eram os de um ocasional poço comunitário com uma bomba manual, com a qual enchíamos nossos baldes de água diversas vezes por dia. Também cortávamos e transportávamos lenha para os fogões em que cozíamos nossas refeições.
Nós, moças, ajudávamos a mamãe a fazer as tarefas domésticas e aprendemos a cuidar de bebês e a zelar pelas crianças mais velhas. Isto certamente mantinha a família em íntima unidade. Nosso quintal de folguedos eram as colinas cheias de árvores e o regato bem perto de casa. Não raro levávamos nossas bonecas e supostos brinquedos para uma pequena clareira entre as árvores, para brincar ali de casa. De vez em quando, em nossas andanças pelas colinas, avistávamos uma cascável. Éramos o suficientemente sábias para guardar distância.
Para os da reserva, não era fácil conseguir empregos, mas meu pai sempre parecia estar ocupado. Usando seu utilitário, ia para a floresta com sua serra de cadeia e cortava lenha. A venda deste item muito necessário jamais trouxe grandes lucros, mas, pelo menos, sempre estivemos bem agasalhados e jamais passamos fome.
Embora o automóvel já estivesse em uso por um bom tempo, nos meus dias de jovem não era de jeito nenhum incomum ver uma parelha de cavalos puxar uma carroça chata pela cidade, levando a família toda, e com alguns cachorros correndo atrás. Muitas das senhoras mais jovens trajavam cobertores coloridos e mocasins naquela ocasião. Agora só as mais idosas o fazem. Vestidos de pele de gamo cheios de contas, penas e sinos são vistos apenas nas danças indígenas realizadas em ocasiões especiais.


A Comida não É Problema


Visto que os índios podem caçar na reserva, o principal item alimentar ainda é a carne de veado. E é conservada da mesma forma antiga. As mulheres a cortam em tiras bem fininhas, lavam-na em água salgada e a penduram em postes para secar. Pode então ser guardada meses a fio ou usada logo em seguida. Usualmente é cozida com batatas e legumes ou macarrão. Outra forma de preparar carne seca é por triturá-la em pedacinhos e misturá-la com cerejas bravas ressecadas que foram moídas, com banha de porco e açúcar. Este prato é chamado "um".
Dois tipos principais de pão são usados. O favorito é "pão frito". Para fazer este pão, estira-se a massa, que é cortada em pedaços e fritada em gordura de porco. O resultado é um delicioso pãozinho fofo marrom-dourado. O outro tipo é conhecido como "pão fantasma". É cozido em formas arredondadas e chatas. Afirma-se que derivou seu nome do fato que na antiga vida nômade, quando o índio não raro tinha de sair às pressas e bem quietamente, este tipo de pão poderia ser preparado de forma conveniente, tão quieto como o suposto "fantasma". Embora o conhecimento a seu respeito esteja desaparecendo, muitas raízes e ervas valiosas costumavam figurar em nosso livro de cozinha.


Educação


Os cheyennes do norte têm uma distinta língua tribal deles próprios. É difícil de aprender, poucas pessoas de fora tendo sido capazes de dominá-la por completo. Todavia, é uma língua bonita, em que uma única expressão pode ser representada por uma figura. Mas, tivemos de aprender inglês quando foi aberta a escola pública em Lame Deer. Meus pais eram católicos-romanos, de modo que, no meu segundo ano escolar, fui enviada para escola da missão católica, a uns trinta e dois quilômetros de distância. Todo domingo, um grupo de nós, crianças cheyennes, costumávamos viajar para a escola e ficar ali até a seguinte sexta-feira de tarde. Isto acontecia nove meses no ano.
A vida numa escola interna é bem atarefada. No entanto, muitas vezes me sentia com saudade de casa. Os dias eram repletos de repetições de orações padronizadas, de frequência à missa, de deveres escolares, de algum folguedo, de serviço na cozinha ou na lavanderia e mais recitação de orações. Seis de meus oito anos escolares foram gastos ali.
Muitas igrejas da cristandade acham-se representadas na reserva. Temos até membros da Igreja Nativa Estadunidense cujos membros participam em tomar o alucinatório cacto peiote como parte de seu ritual. E a antiga religião indígena se mescla em muitas vidas, ainda. As estórias da Medicina Doce, que, segundo a lenda, trouxe organização e outras boas dádivas para a tribo, da parte dos deuses, ainda são contadas. Há todo tipo de sinais, contudo, de que o clima espiritual aqui, como em todas as partes do mundo, acha-se seriamente abalado.


Relíquias Pitorescas


Os nomes de lugares e de famílias são não raro muitíssimo descritivos. Deveras, muitas das famílias conservaram o nome completo de seus ancestrais como seus sobrenomes. Assim, encontra-se tais nomes bonitos e pitorescos como Manto Amarelo, Caixa de Areia, Urso Que Sai, Suporte de Madeira, Urso Solitário e Corvo de Fogo.
A Dança do Sol é uma das antigas celebrações que ainda é realizada anualmente. Em cada verão, eu costumava sentar-me do lado de fora da nossa casa e observar os homens índios mais velhos pela planície fincarem postes especialmente escolhidos como arcabouço da tenda cônica da Dança do Sol. Muito ritual se achava envolvido. Os participantes, todos varões, exceto um, trajam lindos xales que vão da cintura aos pés. São pintados no peito e no rosto, ao passo que ao redor do pescoço fica pendurado um apito feito de salgueiro com uma pena de águia ligada a ele.
Os dançarinos formam um círculo dentro da tenda, e, ao ser tocado o tambor em intervalos, permanecem cada um em seu próprio lugar, mas se movem para cima e para baixo de acordo com o ritmo, soprando o assobio a certas horas. Os lados da tenda são erguidos de modo que os observadores possam apreciar a cena. Os homens jejuam durante os três dias. As mulheres têm canções especiais que entoam. Tal Dança do Sol chega a atrair índios de outros grupos cheyennes e de quaisquer outras tribos, e, durante elas se forma um acampamento de tendas.


Acontecimentos Modernos


Naturalmente, o progresso chegou. Novos lares modernos, encanamentos em quase toda casa, energia elétrica para muitos fins — estes são alguns dos sinais exteriores. Bons empregos e o materialismo se tornaram comuns. Os problemas, também, se tornaram muitos e o arranjo familiar se desmantela, como o faz em todas as demais partes. — Contribuído.


g70 8/1

1 comentário:

Anónimo disse...

Adorei o documentario sobre os índios cheyenne

OBRIGADO RUI COSTA!

AMOR MEU, DOR MINHA

DOR MINHA QUE BATES NO CORAÇÃO,
OLHOS TEUS QUE CRUZAM COM A PAIXÃO;

PARA ONDE FORES CONTIGO IREI,
ONDE ESTIVERES AÍ FICAREI;

NA ROTA DO AMOR BUSCAMOS SINTONIA,
SENDO O MAIS IMPORTANTE A COMPANHIA;

FELIZ AQUELE QUE TE AMA,
E QUE PODE ALIMENTAR A CHAMA;

FICAREI. FELIZ. SINTO O TEU ABRAÇO FORTE,
SINTO QUE O AMOR NÃO ALIMENTA A MORTE;

POR TUDO ISTO UM ADEUS NÃO PERMITO,
NO NOSSO CORAÇÃO O AMOR NÃO É MALDITO.