IMAGINE, se puder, delicado espetáculo de cores esvoaçando de flor em flor. Os raios do sol reluzem sobre suas sedosas asas azuis, à medida que pousa em enorme hibisco. Ali por perto, talvez possa ouvir uma conversa como a seguinte:
"O que faz nas flores?" — pergunta a jovem Maria.
"Observe bem de perto e verá", replica o Tio José.
Ao passo que ainda adeja pouco acima de outra flor, o inseto desenrola sua delgada língua espiral, baixando-a bem fundo no nectário da flor.
"Ora, sua língua é exatamente igual a uma diminuta mangueira", exclama João.
Mas, realmente não é. Acha-se dividida em duas partes. Localizada entre os dois olhos protuberantes, fica enroscada como uma mola de relógio quando em repouso, mas se estende em linha reta quando em uso. A sucção, incidentalmente, é realizada por uma tromba bem semelhante a um fole.
Ao observar esta deslumbrante jóia alada, a Borboleta Azul do Brasil, várias outras surgem em cena, todas ocupadas em reabastecer-se. O jovem João corre atrás de uma delas e logo retorna, segurando-a pelas asas.
"Agora suas mãos estarão cheias de um ‘pó’ fino, João. Veja aqui! Trouxe comigo este microscópio de bolso. Ponha um pouco do ‘pó’ da ponta de seus dedos nesta lâmina. Vê a forma das partículas de ‘pó’? Trata-se realmente de diminutas escamas. Em diferentes espécies, a forma destas escamas varia. Não raro estão alinhadas em filas regulares sobre as asas.
"Agora você já sabe", continua o Tio José, ‘porque as borboletas e as mariposas têm o nome científico de Lepidoptera — palavra derivada das palavras gregas, lepis (escama) e pteron (asa), isto é ‘asas escamadas’."
"Que azul maravilhoso!" — exclama João.
"E é tão frágil!" — acrescenta Maria.
"Bem, realmente, em ambos os casos as aparências enganam", explica o Tio José. "Vista ao microscópio, a cor é claramente marrom, mas as escamas transparentes por cima interferem nos raios de luz de tal modo que faz com que a cor pareça diferente. E tais criaturas não são realmente tão frágeis como se poderia imaginar. As patas são partes tubulares da pele, que serve também de esqueleto, dando proteção e resistência. Também, no corpo, composto de cabeça, tronco e abdômen, há um coração e um estômago."
"O que faz nas flores?" — pergunta a jovem Maria.
"Observe bem de perto e verá", replica o Tio José.
Ao passo que ainda adeja pouco acima de outra flor, o inseto desenrola sua delgada língua espiral, baixando-a bem fundo no nectário da flor.
"Ora, sua língua é exatamente igual a uma diminuta mangueira", exclama João.
Mas, realmente não é. Acha-se dividida em duas partes. Localizada entre os dois olhos protuberantes, fica enroscada como uma mola de relógio quando em repouso, mas se estende em linha reta quando em uso. A sucção, incidentalmente, é realizada por uma tromba bem semelhante a um fole.
Ao observar esta deslumbrante jóia alada, a Borboleta Azul do Brasil, várias outras surgem em cena, todas ocupadas em reabastecer-se. O jovem João corre atrás de uma delas e logo retorna, segurando-a pelas asas.
"Agora suas mãos estarão cheias de um ‘pó’ fino, João. Veja aqui! Trouxe comigo este microscópio de bolso. Ponha um pouco do ‘pó’ da ponta de seus dedos nesta lâmina. Vê a forma das partículas de ‘pó’? Trata-se realmente de diminutas escamas. Em diferentes espécies, a forma destas escamas varia. Não raro estão alinhadas em filas regulares sobre as asas.
"Agora você já sabe", continua o Tio José, ‘porque as borboletas e as mariposas têm o nome científico de Lepidoptera — palavra derivada das palavras gregas, lepis (escama) e pteron (asa), isto é ‘asas escamadas’."
"Que azul maravilhoso!" — exclama João.
"E é tão frágil!" — acrescenta Maria.
"Bem, realmente, em ambos os casos as aparências enganam", explica o Tio José. "Vista ao microscópio, a cor é claramente marrom, mas as escamas transparentes por cima interferem nos raios de luz de tal modo que faz com que a cor pareça diferente. E tais criaturas não são realmente tão frágeis como se poderia imaginar. As patas são partes tubulares da pele, que serve também de esqueleto, dando proteção e resistência. Também, no corpo, composto de cabeça, tronco e abdômen, há um coração e um estômago."
Surpreendente Transformação
"Diga-nos, titio, como nascem as borboletas", suplica Maria.
"Bem, minha querida, primeiro o macho e a fêmea precisam unir-se. Para este fim, os machos dispõem de um par de antenas compostas de muitos segmentos diminutos, e, com os mesmos, podem detectar a presença de uma fêmea a grandes distâncias, até mesmo a quilômetros de distância. Talvez o cheiro seja o segredo, pois o macho sempre volta suas antenas em direção ao vento.
"Quando o macho se aproxima da fêmea de sua preferência, diz-se que exibe todas as suas cores numa espécie de dança palpitante. Após a fertilização, a fêmea segrega certa substância com que se cobre a fim de repelir qualquer outro macho. Daí, deposita seus ovos, talvez até uns mil. Tendo atingido seu objetivo na vida, recusa-se a comer, vive apenas por mais alguns dias, e então morre. O macho, também, morre logo depois."
"Daí, o que acontece, titio?"
"Os ovos são incubados, e deles saem larvas, larvas famintas, Maria. Isto ocorre usualmente de oito a dez dias depois de serem postos os ovos. E não precisam de mamãe para alimentá-las, pois já nascem dispondo de fortes queixadas e de oito a dez olhos com que procurar alimento. As suculentas folhas verdes são seu cardápio. Observadores certa vez notaram que, durante um período de cinqüenta e dois dias, certa lagarta devorou 120 folhas, bebeu quinze gramas de água, e cresceu 86.000 vezes em comparação a seu peso ao nascer!
"As lagartas são muito vulneráveis aos inimigos", continua o Tio José, "de modo que têm de se manter alertas. Algumas só se alimentam à noite; outras do lado oculto das folhas; ainda outras se escondem em telas ou em esconderijos tubulares feitos de folhas retorcidas. Outras têm surpreendente habilidade de camuflagem. O reflexo da luz de seu ambiente imediato produz um reflexo nervoso, resultando numa mudança de cor. Por exemplo as larvas da mariposa de asa posterior vermelha, quando sujeitas a cercanias verdes, tornam-se verde-azuladas, e, em fundo de coloração escura, tornam-se cinza-azuladas."
"O que finalmente ocorre à lagarta?" — pergunta João.
"Bem, certo dia, instintivamente se retira para um lugar oculto, começa a tecer alguns fios sedosos em um casulo, e entra em seu último estágio, a crisálida — algo que se parece a um invólucro cilíndrico, conífera. Este estágio pode durar de uma semana a diversos anos. Dentro do cilindro, ocorre verdadeiro milagre, a reformulação do corpo da lagarta em outra criatura. Daí, em certo dia tépido, o apertado abrigo se rompe, e o que pensa que sai dali?"
"Eu sei, eu sei", proclama Maria. "Uma borboleta!"
"Isso mesmo, uma borboleta ou uma mariposa, dependendo de que família pertença o ovo. Mas, imagine só! Não se trata mais duma lagarta frágil, mas uma estonteantemente bela criatura alada — e talvez muito colorida. Espalha suas asas, injeta nelas um fluido de seu corpo interior e, quando as asas se secam, ela está pronta para seu vôo inaugural."
Distribuição por Toda a Terra
"Há muitas espécies de borboletas?"
"Bem, Maria, contando as borboletas e as mariposas, pelo menos já foram descritas 80.000 espécies, e se crê existirem umas 120.000 espécies. Entende-se que o Brasil possui o maior número. Certo naturalista observou na região amazônica setecentas espécies no espaço de apenas uma hora."
"Então podem ser vistas em todas as partes do mundo?" — inquire João.
"Seu âmbito é praticamente o mesmo que as plantas florescentes. Apenas as regiões muito frias, tais como as em torno dos pólos, são evitadas. Pelo menos quarenta e seis espécies se estendem no Círculo Ártico. Mas, não se conhece nenhuma borboleta natural da Islândia. As mais belas vivem nos trópicos.
"Fósseis de borboletas também foram encontrados", observa o Tio José, "tais como as mergulhadas no âmbar báltico. Todavia, estas amostras antigas não demonstram nenhuma diferença material das que adejam hoje por toda a parte. Não há sinais de aperfeiçoamento com o passar de milhares de anos.
Perambulantes Curiosos
"Mas, titio, será que as borboletas voam muito longe?"
"Sim, João. Neste caso, também, há grandes variações. A maioria das espécies vive apenas poucos dias ou semanas e permanece em uma única localidade. Outras vivem meses, e voam milhares de quilômetros quer só quer em panapanás. Considere, por exemplo a borboleta monarca (Danaus plexippus). No verão, é comum nas latitudes setentrionais, chegando até à Baía de Hudson. Passa o inverno na Califórnia ou no México, cada geração sucessiva retornando às mesmas localidades. Na primavera, esta borboleta adquire nova vida e decola para a longa viagem de volta para o norte. Por volta de junho, chega lá, põe seus ovos e então morre."
"Como conseguem emigrar para os mesmos locais, titio?"
"Deus lhes concedeu tal habilidade, Maria. Tem-se sugerido que o odor desempenha importante papel nisso. Cada asa traseira do monarca macho possui uma mancha escura, e as escamas desta mancha são negras e ocas. Deixam escapar um perfume que se parece de longe ao da madressilva. É usado principalmente com relação ao acasalamento, mas poderia acontecer que também deixam uma trilha de perfume para três, quando viajam em grandes panapanás.
"Naturalmente, nem todas as espécies voam na mesma direção. Na África, panapanás de borboletas que se dirigem a diferentes direções foram observados se encontrando e cruzando-se em caminho, por assim dizer. Mas, cada tipo adere a seu próprio curso. Nem sequer uma tempestade os desvia. E alguns de seus panapanás são enormes. Certo panapaná foi observado na Europa, tendo quase sessenta e cinco quilômetros de largura e demorando três dias para passar por determinado lugar, à velocidade de uns nove quilômetros e meio por hora. Calculou-se que o número no panapaná era de cerca de três bilhões."
"Será essa sua velocidade usual?"
"Não necessariamente, João. A pesquisa do assunto produziu alguns fatos realmente surpreendentes. Cronometrou-se borboletas a voar na Inglaterra a quarenta e dois quilômetros por hora. Uma, seguida por um helicóptero, voou 220 quilômetros em 4 horas e 42 minutos. E tais insetos não consomem nem de longe o combustível usado pelas máquinas voadoras dos homens. O helicóptero consome de 4 a 5 por cento de seu peso em combustível numa hora de vôo; um avião usa 12 por cento. Mas, a borboleta, no mesmo tempo, usa apenas seis décimos de um por cento de seu peso."
Outras Singularidades
"Quão grandes chegam a ser, titio", pergunta Maria.
"Há algumas realmente grandes. A fêmea Troides Alexandre da Nova Guiné, por exemplo, atinge de vinte a vinte e cinco centímetros de uma ponta à outra. A Ornithoptera Cassandra de Queenslândia do Norte, Austrália, tem mais de dezesseis centímetros, e outra espécie em Bornéu tem quase dezoito centímetros de uma ponta à outra das asas abertas.
"Daí, também", continua o Tio José, "há os ‘gambás’ do mundo das borboletas. Estes soltam um cheiro insuportável para afastar os inimigos — especialmente as aves. Também, o desenho de suas asas não raro são bem calculados para prover camuflagem. Em certo tipo, as asas parecem olhos duma coruja; em outro, parecem como uma velha folha seca; ainda em outro apresentam um desenho similar ao número 80 ou 88 no lado inferior de suas asas."
"Assim, qual é a diferença entre mariposas e borboletas?"
"Falando-se em geral, João, as borboletas voam durante o dia, e as mariposas à noite. Mas, há exceções. Deveras, provavelmente já viu mariposas voarem à luz do dia. Quando descansam, as borboletas em geral mantêm suas asas, pelo menos as da frente, fechadas e em posição vertical. A mariposa deixa suas asas da frente abertas, inclinadas obliquamente. Daí, também, via de regra as mariposas não exibem cores tão vívidas como as borboletas."
"Mais uma coisa, titio. Será que as borboletas têm alguma utilidade?"
"Sim, têm, Maria. Além de serem um deleite para os olhos das pessoas apreciadoras, também desempenham importante função em favor das plantas. Transportam o pólen de uma flor para outra, desta forma tornando possível a reprodução das plantas. Também, já ouviu falar dos bichos-da-seda. Eles, também, se tornam borboletas, mas no estágio de larva fiam casulos de seda pura, que o homem utiliza para seus próprios fins. Mas, agora, meus queridos, o sol já se está pondo, e é hora de seguirmos caminho."
"Obrigado, titio", diz João, "por nos ter contado tudo sobre a lepi . . . como é mesmo?"
"Lepidoptera. Lembra-se? Asas escamadas."
in Despertai de 22/11/1970 pp. 16-19
Sem comentários:
Enviar um comentário