Brandus dream list

Mensagens populares

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Música melancólica dos Andes




NUMA trilha, bem no alto das encostas dos Andes, uma família indígena retorna para casa do mercado. O pai, à frente, ergue sua flauta simples aos lábios, e uma melodia triste e doce começa a ecoar pelo ar das montanhas. A uns cento e sessenta quilômetros de distância, nas apinhadas ruas de Quito, um humilde cargador (carregador) labuta sob sua carga e, de algum lugar em baixo das dobras de seu poncho, um pequeno transistor toca uma similar serenata melancólica.

Trata-se da música típica da serra equatoriana. Carinhosamente chamada de música nacional, seus acordes característicos podem ser ouvidos por todo o altiplano equatoriano, em incontáveis cafés das esquinas, nas praças locais nos dias festivos, nos campos na época da colheita, nos ônibus, em oficinas mecânicas e nas casas. Embora estas toadas tristonhas é um tanto repetitivas não sejam exatamente o que se poderia imaginar como a típica “alegre música latina”, têm atrativos ímpares. Revelam também ao ouvinte muitas coisas sobre a terra e o povo.

A música nativa desta região da América do Sul parece ter mudado muito pouco através dos séculos. Segundo certo primitivo historiador equatoriano, Juan de Velasco, quando os espanhóis chegaram, já encontraram os índios usando flautas de pã e pingullos, que são tipos diferentes de flautas. Até o dia de hoje, a música das tribos andinas mostram apenas breves efeitos de quatro séculos de influência espanhola. O índio ainda toca seu rondador, ou flauta de pã, e seu pingullo. Suas melodias orais ainda são ouvidas.

Dos instrumentos típicos desta região, o rondador tem merecido especial interesse. O rondador equatoriano é feito por se ajuntar uma fileira de oito a trinta, ou mais, canas ocas de comprimentos variados, com cerca de 1,25 centímetros de diâmetro. O fabricante do rondador arranja as canas “de ouvido” em pares tonais. Em terminologia musical, a relação ou intervalo entre os tons de cada par é de terceira menor. Apenas nos rondadores muito pequenos as canas são dispostas para se formar uma escala consecutiva. As deleitosas melodias do rondador são produzidas por se soprar pelas pontas das canas enquanto se move o instrumento de um lado para o outro, como quando se toca gaita de boca.

O rondador tem suscitado interesse principalmente devido a que instrumentos idênticos têm sido achados nas ruínas de antigas civilizações chinesas e birmanesas, e através das ilhas do Pacífico. Esta notável similaridade nos instrumentos musicais tem sido interpretada por alguns como evidência do primitivo contato entre as culturas do Extremo Oriente e da América do Sul.

Muitos, ao ouvirem a música da serra pela primeira vez, comentam que ela lhes faz lembrar a música oriental. Outros afirmam que lhes traz à lembrança alguma balada escocesa. Seus ouvidos não os enganam. A música dos Andes se baseia na escala pentatônica, assim como a música antiga da China, Escócia e de outros países.

A escala pentatônica é uma escala musical de cinco notas, sem semitons. A escala se baseia numa nota tônica ou grave, tal como Fá, acima da qual há quatro quintas perfeitas: Dó, Sol, Ré e Lá (a quinta nota acima de Fá sendo Dó, a quinta acima de Dó sendo Sol, e assim por diante). As cinco notas são então rearranjadas para formar uma escala maior ascendente: Fá-Sol-Lá-Dó-Ré. Na música folclórica equatoriana, o uso da escala pentatônica menor, neste caso Ré-Fá-Sol-Lá-Dó, contribui grandemente para a qualidade triste e monótona.

Fatores Ambientais

Qualquer que tenha sido a origem do índio equatoriano e de sua cultura, quando se estabeleceu nos vales andinos, sua música deve ter começado a ecoar a disposição de seu novo país. A estonteante beleza dos vulcões cobertos de neve, o ar rarefeito, os ventos frios, e, acima de tudo, a solidão das montanhas — todos estes fatores ambientais parecem ter deixado sua marca na personalidade e na música dele.

As diferenças óbvias entre a música popular da serra e a da outra principal área geográfica do Equador, a costa tropical, tendem a apoiar esta idéia. Joviais e independentes, as pessoas da área costeira em geral mostram decidida preferência pela música viva e rítmica. Via de regra, evitam as melodias tristes que seus conterrâneos taciturnos da serra tanto apreciam. É significativo, também, que a música popular da costa se baseia provavelmente nas claves principais, ao passo que o índio da serra prefere o tristonho tom menor para mais de 90 por cento de suas expressões musicais.

Em vista da opressão sofrida pelos índios através dos últimos séculos, alguns concluem que a aparente tristeza de sua música reflita a tristeza de seu quinhão na vida. Outros, contudo, acham que a disposição melancólica se deve mais aos fatores ambientais e às limitações dos instrumentos e à estrutura musical do que ao esforço consciente de expressar injustiças sociais.

Deveras, o próprio índio não considera sua música como sendo particularmente triste. Simplesmente a toca da maneira que o faz porque esta é a forma que lhe agrada e porque é a forma em que há muito tem sido tocada.

in Despertai de 8/3/1972 pp. 19-20

1 comentário:

Anónimo disse...

legl essa musica

OBRIGADO RUI COSTA!

AMOR MEU, DOR MINHA

DOR MINHA QUE BATES NO CORAÇÃO,
OLHOS TEUS QUE CRUZAM COM A PAIXÃO;

PARA ONDE FORES CONTIGO IREI,
ONDE ESTIVERES AÍ FICAREI;

NA ROTA DO AMOR BUSCAMOS SINTONIA,
SENDO O MAIS IMPORTANTE A COMPANHIA;

FELIZ AQUELE QUE TE AMA,
E QUE PODE ALIMENTAR A CHAMA;

FICAREI. FELIZ. SINTO O TEU ABRAÇO FORTE,
SINTO QUE O AMOR NÃO ALIMENTA A MORTE;

POR TUDO ISTO UM ADEUS NÃO PERMITO,
NO NOSSO CORAÇÃO O AMOR NÃO É MALDITO.